Não deixa de ser engraçado ouvir, por aí, alguns comentários ou ler alguns escritos de estrénuos defensores da transparência, da liberdade de informação e do escrutínio permanente e incisivo dos políticos que agora, perante o degradante espectáculo dado por alguns dos seus heróis - jornalistas, empresários, gestores, etc. -, na audição sobre liberdade de expressão, que decorre na Comissão de Ética da Assembleia da República, começarem, de mansinho, a dizer que as audições não deviam ser transmitidas em directo pela televisão, que o espectáculo é deprimente, enfim, que era melhor fazer tudo pela calada...
Sobre tudo o que se tem dito e escrito, sobre a suposta censura a um artigo de Mário Crespo, baseado numa conversa ouvida num restaurante, lembrei-me de um caso que se passou comigo, simples cidadão anónimo, descendente de Gente ainda mais anónima.
Escrevi um post a 06/Maio/2009:
“OBSERVAÇÃO: Durante cerca de 25 anos foi "colaborador" convidado do Diário de Coimbra. Este artigo foi publicado hoje, 51 dias depois de ser recebido na redacção. Ao fim de 35 dias, e após ver colaboradores com 3 e 4 artigos já publicados, renunciei ao estatuto de "colaborador". Por isso, a partir de agora, e se não houver qualquer evolução, os meus artigos no Diário de Coimbra passarão a ser escritos no "Fala o Leitor". Por enquanto.
Sempre disse o que pensava e não é agora que o vou deixar de fazer. Felizmente tenho a possibilidade de ver os meus artigos publicados em outros jornais locais (Despertar, Campeão, Beiras e Centro) e também nacionais, como foi recentemente o caso no Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Focus, Noticias Magazine, Sol e Expresso.”
Como simples cidadão anónimo, descendente de Gente ainda mais anónima, a situação ficou assim resolvida. Fosse eu outra pessoa e seguramente que a resolução deste caso teria seguramente outro desfecho. Não acredito que haja censura em Portugal, mas tenho a certeza que também os pequenos poderes, os mais perigosos numa sociedade, não gostam de ser censurados. Infelizmente, alguns jornalistas que tanto gostam de criticar ou outros, também não gostam de ser criticados.
Claro que houve alguma gente que soube deste meu episódio. Mas quem se iria meter, correndo o risco de também ser censurado? É fácil falar em valores e princípios democráticos, mas muito mais difícil é actuar em nome dos mesmos. Assobiar para o lado é quase um desporto nacional.
O que me aconteceu no Diário de Coimbra, jamais me aconteceria no Campeão das Províncias ou no Despertar. É a minha convicção.
Também a mim me tiraram uma divisão da minha casa, onde ía guardando os meus pensamentos e as minhas ideias sobre o que observo. Mas tenho sobrevivido, graças às outras divisões da casa, onde ninguém mexeu.
Comentário recebido por Castanheira Barros:
Prezado José Soares:
Obrigado pela solidariedade que me manifestou no seu Blog Konversas face ao boicote de que está a ser alvo a minha candidatura à Presidência do PSD por parte da comunicação social de âmbito nacional ( não da comunicação social das Regiões Autónomas por onde já andei em campanha , nem da Região Centro ) facto que , evidentemente, incomoda qualquer democrata que se preze, como é certamente o seu caso a avaliar pela sua reacção, que muito louvo .
Se a razão de ser da censura de que sou objecto fosse « provincianismo da capital » ainda a coisa não era assim muito má . O problema é que esse boicote deve-se ao facto de eu ser um candidato incómodo por diversas razões :
1º- porque tenho as mãos limpas e por isso a comunicação social não vê em mim uma potencial fonte de escândalos que conduzem ao incremento das vendas ;
2º- porque sou incómodo para o Primeiro-Ministro que tem sido levado ao colo por um segmento subserviente da comunicação social ;
3º- porque não me deixo manipular pela comunicação social e por isso nunca serei uma marioneta nas mãos dos fazedores de notícias deste País que vivem na ilusão de que têm o poder de criar e destruir mitos a seu bel prazer ;
4º- porque não pertenço nem nunca virei a pertencer a qualquer sociedade secreta, sendo um não-alinhado que pensa pela sua própria cabeça, o que também incomoda muita gente .
Acredito que hei-de conseguir romper com a barreira censória ainda existente e mesmo que não o consiga, resta-me a consolação de saber que vão ser os militantes do Partido e não os jornalistas a eleger o próximo Presidente do PSD.
Se desejar pode publicar este comentário, pois é meu timbre dizer sempre abertamente aquilo que penso.
Com a mais elevada consideração.
Castanheira Barros
Retrato da crise moral brasileira. Será que também se aplica a Portugal? Receio bem que sim.
Nada tenho a ver com a vida da Igreja na Madeira ou em qualquer outro lugar. Mas como cidadão português a viver em democracia, acho completamente inadmissível que haja pessoas que continuam a ser perseguidas por delito de opinião. A ser verdade, TODOS os órgãos de soberania deste país têm de actuar, dentro da sua esfera de competências. Começa a ser demais os exemplos de asfixia democrática no país, em especial na Região Autónoma da Madeira.
A indignação trespassa as opiniões de muitos e muitos conimbricenses, que manifestam a sua estranheza e repúdio, pela atitude arrogante com que o Dr. Encarnação brindou em primeira mão o novo elenco do executivo municipal, com a proposta de proibir os jornalistas de assistirem a todas as reuniões do executivo municipal.
Infelizmente a mim não me surpreendeu, pois para quem conhece minimamente o politico Encarnação, só vem comprovar mais uma vez, que a máscara lhe caiu, como noutras ocasiões.
Acredito, que tenha apanhado alguns, incluindo Vereadores da maioria de surpresa, sem tempo de reacção, servindo-se da reunião do executivo municipal, como uma experiência.
Mas em política e vindo de quem vem, tudo tem um sentido, e no mínimo estar de reserva a propostas sem sentido e sem razão, obviamente tem que ser contrariadas. Assim o fiz questionando da razão de tal proposta, mas como sempre, respostas não há.
Não posso deixar de referir, que a proibição aos jornalistas de assistirem às reuniões do executivo municipal, para além de ser um acto de absoluta censura dos tempos de hoje, é um rude golpe na vida democrática de Coimbra.
São anos e anos de um acto de cultura democrática, praticado por vários Homens, que honraram a função de Presidente da Câmara Municipal, e de que Coimbra se podia orgulhar, pela saudável convivência democrática.
Desde os debates, às propostas, as posições de cada um, a opinião, a informação, o detalhe, o pormenor, tudo isso durante anos e anos, foi colocado de forma transparente, junto dos cidadãos de Coimbra, pela via da participação dos jornalistas nas reuniões da Câmara Municipal.
Não posso deixar de recordar entre muitos o jornalista João Bravo, que lá onde estiver, deverá ter tido vontade de pegar na sua caneta e escrever sobre esta posição de Encarnação, com a sua forma muito própria de transmitir a mensagem.
Lamentável, que a cultura democrática de Coimbra, seja adulterada pela vontade do actual Presidente da Câmara, que de forma tipo descartável, raciocina só em função dos seus pequenos interesses políticos. Até que precisou, participaram, agora que vai para o último mandato, descarta-os.
Por outro lado, se a posição que o Dr. Encarnação tomou, é procurar ocultar as posições dos Vereadores da oposição, e se calhar mesmo as de alguns da maioria, quanto aos da oposição está redondamente enganado, pelo menos por mim terá o mesmo posicionamento estejam ou não jornalistas, e algo me diz que naturalmente serei muito mais exigente.
Mas esta atitude, para além de mesquinha, coloca-me uma dúvida, que só o Senhor Presidente da Câmara a poderá tirar, o que duvido. O que será que virá por aí, que o Presidente da Câmara não quer que os jornalistas ouçam?
Lamentável, mais uma vez, é a palavra que utilizo para caracterizar a proposta do Dr. Encarnação, pois trata-se de rude golpe na vida democrática de Coimbra.
Carlos Cidade
Fonte: “Diário de Coimbra“ - 23-11-2009
Um manifesto que pugna pela presença de jornalistas nas sessões da Câmara Municipal de Coimbra, em prol da “transparência autárquica”, já se transformou em petição que pode ser subscrita online.
“Atendendo ao impacto do 'Manifesto anti-silêncio na Câmara de Coimbra', que inicialmente não era mais do que uma tomada de posição cívica, senti a necessidade de criar uma plataforma de acesso geral dos cidadãos, tendente a promover a alteração da decisão da Câmara e por isso lancei uma petição que está online e que pode ser subscrita”, anunciou hoje (dia 25) o ex-vereador socialista João Silva.
A petição, que pode ser subscrita em http://www.peticao.com.pt/comunicacao-social-cmc, "não visa a derrota de ninguém, mas, fundamentalmente, a transparência da actividade da Câmara e o acesso e observação directa dos órgãos de comunicação social da tomada de decisões do governo da nossa cidade, como vinha acontecendo há muitos anos”, refere.
O texto do “Manifesto anti-silêncio na Câmara de Coimbra” é o seguinte:
«O silêncio político de uma cidade é prenúncio da sua morte.
Uma cidade que aceita que o seu governo troque a abertura e o escrutínio público pela decisão fechada, tomada entre as quatro paredes duma sala de sessões, é uma cidade que vende o futuro.
Ocultar a face sobre a forma como as decisões são tomadas em nosso nome é renegar todo um passado de abertura e transparência, é um inaceitável comportamento político redutor da qualidade da democracia e indutor da suspeição e da desconfiança.
Uma cidade onde o presidente manda e os vereadores obedecem, cozinham acordos ou dormem sobre os dossiers não é uma cidade de futuro.
Fazer da Câmara de Coimbra um bunker onde se decide em segredo, afastando os jornalistas da reuniões do Executivo, não consta de nenhuma das propostas eleitorais que sufragámos nas recentes eleições e impedir os jornalistas de assistir às reuniões da Câmara – prática seguida em sucessivos mandatos – não foi um compromisso eleitoral anunciado, nem uma intenção manifestada.
Calar vereadores e silenciar a comunicação social é um acto de medo e de censura numa cidade onde se canta liberdade.
Os signatários querem continuar a saber como decidem os eleitos locais em sua representação e não aceitam o esbulho a esse direito pelo que se manifestam: Pela transparência autárquica na sua cidade; pela presença da comunicação social nas sessões da Câmara; contra o silêncio político na Câmara de Coimbra».
Já são signatários: João Silva, Joaquim Raimundo, Maria da Conceição Freire, Manuel Moreira Claro, Nuno Filipe, António Rochette, Vitalino José Santos, António Pinheiro, Artur Fontes, Rodrigues Costa, José Reis, Osório Gomes, Luís Duarte Coelho, Mário Ruivo, Manuel Machado, José Soares, António Manuel B. Ramos de Carvalho, Júlio Loureiro, Teresa Portugal, Francisco Fachada, Ricardo Castanheira, Lusitano dos Santos, António Vaz, Catarina Martins, Carlos Cidade, Ana Pires, José Manuel Pureza, Teresa Jorge, António Sousa Ribeiro, João Maria André, Rui Bebiano, José Dias, Ernesto Costa, João Paulo Dias, Miguel Cardina, Marisa Matias, Isabel Campante, Sandra Silvestre, Hugo Dias, António José André, Helena Loureiro, António Rodrigues, Luís Sousa.
Luis Santos
In: Jornal Digital “CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS” - 25-11-2009
Explicação de Carlos Encarnação, em vídeo retirado do Sexo e Cidade.
Por imperativo de consciência, subscrevi o Manifesto Anti-Silêncio na Câmara de Coimbra.
Veja e assine a PETIÇÃO.
O eurodeputado do PSD, Mário David exortou José Saramago a renunciar à cidadania portuguesa, esta terça-feira, por se sentir «envergonhado» com as recentes declarações do Nobel da Literatura.
Comentário: Temos o direito de não gostar do homem, mas o que é que a sua liberdade de opinião sobre a religião (que já é muito antiga) tem a ver com a sua nacionalidade?
A questão da suspensão do Jornal Nacional de 6ª Feira na TVI, veio trazer novamente à ribalta a questão da liberdade de imprensa, ou falta dela.
Para mim, e não me referindo a este caso em particular, que tem contornos além fronteiras, é evidente que há censura na informação em Portugal, há muitos anos. Antes do 25 de Abril havia uma; depois, mais discreta e profissional, passou a haver outra. Ninguém gosta de ser criticado e são poucos os que têm poder de encaixe face à crítica.
A questão é mais profunda. A censura existe e começa na imprensa regional. Os pequenos poderes são por vezes mais preocupantes e mais subtis, mais discretos. Há décadas que colaboro num diário em Coimbra. Quando foi publicado o meu último artigo nesse jornal? Porque razão deixei de ser colaborador? Teria sido censurado pelos pequenos poderes? E aqueles que souberam e nada disseram!? Deixaram de defender a liberdade de opinião para não perderem os seus próprios espaços de opinião? Defende-se a nível nacional e ignora-se o que se passa à nossa porta. Não há pachorra para tanta hipocrisia.
Cada vez leio com mais interesse as cartas dos leitores. Essas sim, genuínas, e que mostram a real opinião de quem as escreve.
A vida é difícil e as pessoas com voz própria são incómodas em democracia, ou melhor, para alguns democratas de pacotilha. Não aprecio o estilo Manuela Moura Guedes nem o seu jornal, mas recuso-me a aceitar o seu encerramento da forma como foi anunciado.
No dia 11 de Janeiro de 1973, os funcionários que participaram na vigília da Capela do Rato, em Lisboa, contra a guerra colonial, são expulsos da Função Pública, por decisão do Governo da ditadura. In efemérides.
A liberdade de hoje, está mais próxima de 1973 do que de 1974.